No antigo castelo de Adeganha [concelho de Moncorvo] existia uma passagem
subterrânea que depois foi tapada. Lá dentro ficou uma jovem moira que os cristãos
haviam raptado e ali encerraram. Era tecedeira e tecia fios de ouro. Pelo tempo fora, a
moura ali ficou encantada.
Um dia, um pastor andava por ali, guardando as cabras. Subiu ao cimo das
ruínas do castelo e espreitou por um buraco. Viu umas escadas e desceu por elas.
Começou a ver ouro, muito ouro. De repente, assustou-se e voltou a subir, cheio de
medo. Ouviu então uma voz dizendo:
– Ah, ladrão, que me dobraste o encanto!
Era a voz da moura, lamentosa, que ali continuaria, encantada, pelos tempos
fora. O encanto só podia ser quebrado por alguém que ali fosse à meia noite do dia de
São João.
E foi o que aconteceu. Um outro pastor, que guardava ovelhas, deixou perder
uma delas que entretanto parira. Foi procurá-la de noite. Subiu ao castelo para ver se
escutava os balidos da ovelha e da cria. De repente, espreitou pelo buraco. E lá dentro,
viu uma toalha branca, de linho, cheia de figos secos. E que apetitosos!...
Desceu, e foi encher os bolsos. Depois foi à procura da ovelha. Encontrou-a
junto ao castelo, presa em umas silvas e acariciando o cordeirinho. Então meteu um
figo à boca, mas... era de ouro. Os figos eram todos de ouro fino. Ouviu então um
barulho leve, como de avezinha, e uma palavra cheia de ternura e felicidade:
– Obrigada!
Era a moura que voava, livre, para junto dos seus. O encantamento havia sido
quebrado. Ficou da história uma quadra que o povo de Adeganha continua a cantar:
“Aqui está Adeganha,
Toda ela engalanada!
Ao cimo tem o castelo
Com sua moira encantada!”
Fonte
ANDRADE, Júlio – “Lenda da moira encantada de Adeganha”, in Terra Quente, Mirandela, 1-12-1999.
in Parafita, Alexandre, Mouros Míticos em Trás-os-Monte - contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural
a partir de textos da literatura popular de tradição oral, Volume II.
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