"Esta estrada vai dar à aldeia de Estevais, depois a Cardanha e Adeganha. O viajante não pode parar em todo o lado, não pode bater a todas as portas a fazer perguntas e a curar das vidas de quem lá mora. Mas como não sabe nem quer despegar-se dos seus gostos e tem a fascinação do trabalho das mãos dos homens, vai até à Adeganha, onde lhe disseram que há uma preciosa igrejinha românica, assim deste tamanho.
(...)
Enfim, a igreja é esta. Não caiu em exagero quem a gabou. Cá nestas alturas,
com os ventos varredores, sob o cinzel do frio e da soalheira, o templozinho
resiste heroicamente aos séculos. Quebraram-se-lhe as arestas, perderam a feição
as figuras representadas na cachorrada a toda a volta, mas será difícil
encontrar maior pureza, beleza mais transfigurada. A igreja de Adeganha é coisa
para ter no coração, como a pedra amarela de Miranda".
(José Saramago, "Viagem a
Portugal" Prémio Nóbel da Literatura)
Fotografia: Ana Rita Ferreira
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